Era uma vez um baixinho invocado chamado Napoleão que havia virado Imperador de um país chamado França. Em sua sede de poder ele resolveu criar uma grande confusão com um outro país chamado Inglaterra. Tudo por que os espertos ingleses não queriam dividir o bolo do comércio internacional com ninguém, principalmente com o francês. De sacanagem, nosso querido vilão (os ingleses também não eram mocinhos nesta história) inventou um bloqueio continental que proibia todos os países da Europa de fazerem negociatas comerciais com seu inimigo. É ai que entra na história o nosso bravo herói (muito bravo... Só se cagão mudou de nome) Dom João, Principe Regente de um pequeno país chamado Portugal. Nosso Principe Encantado era príncipe-regente por que sua mãe, a Rainha Dona Maria, não tinha uma gota de juízo (será?). Mas contam as más línguas que quem queria mandar mesmo era a linda princesa (toda princesa em contos de fadas é linda, apesar que essa na verdade era um tribufu ninfomaniaco) Dona Carlota Joaquina, infanta de Espanha.
Nosso principe encantado ficou no meio da briguinha entre franceses e ingleses, e, pressionado pelos dois lados, resolveu muito bravamente (conta outra) fugir para o Brasil, uma grande terra paradisíaca onde tudo que se planta dá (não só o que se planta dá, outras coisas também dão). A fuga foi alucinante, milhares de pessoas queriam deixar a capital portuguesa, Lisboa. Toda corte queria fugir do General Junot, que com seu exercito (o exercito português era tão bom que meia duzia de franceses esfomeados podia realmente conquistar o país) avançava sobre o país para conquista-lo e reparti-lo com a Espanha. Baús e mais baús de roupas, livros da biblioteca real, obras de arte, cavalos, bois, galinhas, porcos e tudo mais que desse pra enfiar em um navio, era pego. A única pessoa que não queria ir era Dona Maria I, que todos chamavam de louca (mas será que era ela mesmo quem era louca? Pois inventar de fugir pra outro continente lavando tudo que tinha é que não parece coisa de gente sã). A “louca” rainha gritava enquanto o povo protestava pelo abandono. "Estamos fugindo... Mas por que estamos fugindo? Por quê? Não corram tanto, vão pensar que estamos fugindo!", berrava Dona Maria. Pena que não havia nenhum cinegrafista amador para filmar a cena.
Lá se foram pelos mares os “Heróis do Mar, Nobre Povo, Nação Valente e Imortal”, como diz o hino do reino do nosso Principe encantado (pena que ele não fazia jus ao hino). Logo que começou a viagem, os navios se perderam uns dos outros devido a uma tempestade. Aos berros de "incompetente" vindos do camarote da “bela” Princesa Carlota, Dom João e seus capitães conseguiram reagrupar. Enquanto isso Dona Maria apavorada começava a devanear (ou será que não?) sobre o que encontrariam no Brasil. Segundo a Rainha, nosso país era uma terra de gente despudorada que vivia pelada e que comiam outras pessoas (sabe que a véia tinha razão? Isso até parece com a realidade de boa parte da nossa população). Uma serie de infortunios acometiam os viajantes, a água e a comida eram racionadas e, pra piorar a situação, um surto de piolhos atingiu a todos. Nossa bela e vaidosa princesa teve que raspar os cabelos para se livrar dos piolhos, e para não mostrar a careca enrolou um pano na cabeça. E foi seguida por todas as damas (dizem que foi assim que começou uma moda que perdura até hoje na Bahia, mas isso não nos interessa neste momento, não adianta insistir).
A viagem prosseguia e ninguém aguentava mais. Tinha gente já com vontade de atirar nosso principe encantado no mar (a Princesa Carlota), mas Dom João seguia firme pra alcançar seu objetivo (comer mais um frango). Após vários dias, uma nova tempestade afasta os navios. Para Dona Maria, não foi uma tempestade, e sim gigantescos monstros marinhos que queriam impedir que seu filho chegasse ao Brasil, com isso corrigindo o erro do mesmo de fugir de Portugal deixando o povo a mercê do inimigo (claro que a véia tava falando metaforicamente, pois, como já dissemos, ela era a mais sã daquela familia). Para se reagrupar, eles fazem uma parada em Salvador. O povo baiano recebeu o príncipe e a corte com esperanças de que eles fossem embora o mais rapido possivel, pois tinham medo do que sua cidade poderia virar com aquele bando de loucos vindos de além-mar, ficando por lá. Ainda na Bahia, Dom João resolve abrir as pernas para os ingleses (no bom sentido, é claro) e assina um tratado para a abertura dos portos brasileiros para as nações amigas (nesse momento o Brasil virava oficialmente terra de ninguém). A viagem prosseguiu rumo ao Rio de Janeiro, bela e pequena cidade às margens da Baia da Guanabara, que nunca mais seria a mesma depois da chegada do nosso príncipe encantado e sua corte maluca.
“Cidade Maravilhosa, Cheia de encantos mil, Cidade maravilhosa, Coração do meu Brasil”. É assim que é cantado o Rio de Janeiro em todos os cantos do planeta, nos dias atuais, mas em 1808, era apenas mais uma cidadizinha do Reino Encantado de Portugal. E é neste local que Dom João desembarcou com o bando de mortos de fome que trouxe de Portugal. O grande dilema que abateu o principe logo que chegou era onde acomodar toda aquela cambada de puxa-sacos que o seguiu desde a terrinha. A solução foi simples: o Principe Regente mandou os soldados colocarem as letras P e R (de Principe Regente) nas portas das melhores casas do Rio de Janeiro, para expulsar seus moradores e dar lugar ao povinho que veio com ele. O PR ganhou as ruas como “Ponha-se na Rua” e marcava a primeira transformação que Dom João faria na cidade: a criação do movimento dos sem-teto. O primeiro ato oficial do nosso heroi em terras cariocas foi declarar a cidade nova sede da Monarquia portuguesa (para desespero da princesa Carlota que preferia morrer na guilhotina do que ficar aqui). O segundo ato foi fundar o Banco do Brasil para ter um lugar onde enfiar toda a grana que trouxe do tesouro de Portugal, mas além de encher o bolso de Dom João o banco financiou o surgimento das industrias manufatureiras no Brasil (ou seja, encheu o bolso dos ingleses também. Sempre eles).
O Rio de Janeiro se tornava uma grande cidade e, como toda grande cidade, via a chegada dos abutres da imprensa (esses sentem o cheiro de podre de longe), que mudariam a rotina da cidade com suas línguas afiadas. De um lado, a “Gazeta do Rio de Janeiro”, o jornal oficial que mostrava nosso principe como um valente regente que salvou Portugal e o Brasil das garras do francês malvado. Do outro lado, o “Correio Braziliense”, jornal editado em Londres, que vinha clandestinamente para o Brasil e mostrava Dom João como um cagão que fugiu de Portugal pra salvar a própria pele e ajudar seus amigos ingleses a enriquecer ainda mais. O Principe João se tornaria Rei no Rio de Janeiro e gostava tanto do seu esconderijo nos trópicos que deixou para a cidade inúmeras melhorias e obras que contribuiram para mudar a cidade e o país para sempre. Duas construções em especial são até hoje patrimônios historicos da cidade: a Biblioteca Nacional, afinal tinha que ser criado algum lugar para colocar aquele monte de livro que enfiaram no meio da bagagem que veio de Portugal; e o Jardim Botânico, criado por Dom João como um réfugio dos compromissos reais e principalmente dos berros da mulher. O Rio de Janeiro e o Brasil jamais seriam os mesmos depois que a família real passou por aqui. Os anos passaram, o mundo mudou e, como em todo bom conto de fadas, todos viveram felizes para sempre (Não muito felizes, mas para não encher o seu saco a gente termina por aqui. Se você quiser saber o resto da história, vá ler um livro; vale a pena sair da frente do computador de vez em quando).
Autores do Enredo: Guilherme Dourado e Théo Valter Knetig
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